O Parque Nacional Sajama é um daqueles lugares que ainda passam despercebidos por quem viaja pela Bolívia, mas que guardam algumas das paisagens mais poderosas do Altiplano. No coração dessa imensidão está o Nevado Sajama, o pico mais alto do país, que domina o horizonte e dá ao parque uma presença quase sagrada. Entre montanhas nevadas, águas termais e planícies silenciosas, Sajama mistura aventura, espiritualidade e uma história antiga marcada pelos povos originários da região.
Antes mesmo de virar parque, esse território já era casa de comunidades aimaras que viviam da terra, da criação de lhamas e de tradições que seguem vivas até hoje. E é justamente esse encontro entre natureza, cultura e isolamento que transforma Sajama em um destino tão especial.

Parque Nacional Sajama e o Nevado Sajama
Criado em 1939, Sajama é o parque nacional mais antigo da Bolívia, estabelecido com a missão de proteger tanto o Nevado Sajama, o pico mais alto do país com 6.542 metros, quanto as comunidades e ecossistemas únicos do Altiplano. A região já era habitada muito antes disso, com presença de povos aimaras que construíram caminhos, centros cerimoniais e formas de convivência com o clima extremo.
A transformação da área em parque nacional veio como forma de frear a caça, a exploração de recursos e o risco de desaparecerem espécies como a vicunha. Com isso, Sajama ganhou visibilidade e reconhecimento, preservando cultura, território e biodiversidade. Hoje, o pueblo conta com cerca de 150 habitantes e vive, em grande parte, de atividades comunitárias e do turismo de baixa escala, que ainda chega tímido, mas cresce aos poucos.

Como chegar a Sajama?
O parque fica na fronteira com o Chile, em uma região remota do Altiplano. A paisagem é surreal, mas chegar até lá exige um pouco de paciência, flexibilidade e disposição. As conexões não são muitas e quase sempre é necessário combinar transportes diferentes para finalmente alcançar o pueblo.
De Oruro a Sajama
Eu saí de Oruro em uma van que seguia até Tambo Quemado, na fronteira com o Chile. Esse transporte não entra no parque, então pedi para descer na entrada de Sajama. Combinei previamente com o anfitrião da minha hospedagem que ele iria me buscar ali mesmo. Essa é a forma mais comum de chegar por conta própria: ir até a estrada principal e organizar o resgate com a hospedagem, já que não existe transporte regular até dentro do parque.
De La Paz a Sajama
Quem sai de La Paz precisa primeiro chegar a Patacamaya, uma cidade-base de vans e microônibus. Ali, em uma rua cheia de transportes locais, sai o único transporte que entra no parque e deixa os passageiros direto na praça principal do pueblo. Mas atenção: esse transporte não funciona todos os dias e os horários mudam conforme a demanda. É essencial buscar informação atualizada antes de viajar para evitar contratempos.
O que fazer no Parque Nacional Sajama?
Sajama é perfeito para quem gosta de natureza em estado bruto. A melhor forma de explorar é combinando os atrativos em diferentes dias ou contratando carros locais para otimizar o tempo.
Entre os principais pontos estão as lagunas altiplânicas, as águas termais naturais e os gêiseres. Esses três podem ser feitos por conta própria, mas recomendo alugar uma bicicleta. As distâncias são longas, a altitude pesa e o caminho é completamente deserto. Eu fiz a caminhada até os gêiseres a pé e não faria de novo. É lindo, mas realmente exaustivo.

Outra opção é contratar day tours com os moradores locais. Os tours funcionam quase como serviços privados: você contrata um carro para o dia e escolhe quais lagunas, mirantes e pontos quer visitar. Eu recomendo muito esse formato porque as hospedagens em Sajama são caras e limitadas. Muitos viajantes preferem ficar menos dias e aproveitar ao máximo em um único dia de tour, em vez de estender a estadia para fazer tudo por conta.
Se você estiver com carro próprio ou motorhome, dá para aproveitar em total liberdade e no seu ritmo.
Tem que pagar para entrar?
Sim. O ingresso custa 100 bolivianos por pessoa e vale por três dias. A fiscalização, porém, não é muito rígida. Eu entrei acompanhado de um residente e, por isso, não cobraram nossa entrada. Fomos tratados com muita gentileza, talvez também porque éramos mochileiros e estávamos como convidados. Passamos uma semana lá e ninguém nos pediu os tickets. Mesmo assim, considere o valor na sua viagem, porque oficialmente ele é cobrado.
Nevado Sajama e o montanhismo no parque nacional
O Nevado Sajama é o ponto mais alto da Bolívia, com 6.542 metros, e um símbolo espiritual para os povos andinos. O parque atrae muitos montanhistas, mas para subir, esse nevado exige experiência em alta montanha, aclimatação e apoio de guias, já que a rota é técnica e o clima muda rápido.
Para quem busca algo menos desafiador, o parque também abriga nevados mais acessíveis, como Parinacota e Pomerape. Esses vulcões oferecem ascensões menos técnicas e são boas portas de entrada para quem quer sentir o montanhismo do Altiplano sem enfrentar o cume mais difícil do país.

Mesmo sem subir nenhuma montanha, estar aos pés desses gigantes já é uma experiência poderosa. Os nevados dominam a paisagem, mudam de cor ao longo do dia e dão a sensação de que o tempo passa mais devagar nesse pedaço dos Andes.
Tour de um dia no Parque Nacional Sajama saindo de La Paz
Existe um tour de 15 horas saindo de La Paz que leva direto ao parque e inclui visita às principais atrações. É uma opção prática para quem tem pouco tempo, já que ir por conta envolve transporte irregular, possíveis atrasos em Patacamaya e a necessidade de reservar dias extras caso algo não saia como planejado.
O tour é cansativo e um pouco mais caro, mas elimina toda a logística complicada e garante que você conheça o essencial do parque sem correr risco de ficar presa pelo transporte local.
Sajama: o que saber antes de ir
Apesar de ser o parque mais antigo da Bolívia, a estrutura continua simples. Muitas hospedagens não têm internet e não têm cozinha disponível, você terá que comer fora em todas as refeições. Não existem opções realmente baratas como cozinhar ou montar sanduíches, então prepare seu orçamento.
Sajama é imersão total em um pueblo de 150 pessoas, rodeado por silêncio, montanhas e lhamas por todos os lados. É simples, frio e encantador. E exatamente por isso tão especial.
Minha experiência
Descobri Sajama como uma grande surpresa. Estava em Oruro sem saber o que fazer quando encontrei o parque em uma pesquisa rápida. Escrevi para o pessoal do Hostal Sajama, que recomendo muito, e começamos a conversar. Acabei combinando um voluntariado para ajudar nas redes sociais e na pintura das cabanas, já que eu e o Facu trabalhamos justamente com isso.
Foram sete dias intensos e lindos. No último dia eu já não aguentava mais o frio, a falta de internet e a energia limitada, mas ao mesmo tempo meu coração estava completamente tomado pelo lugar. Foi uma semana maravilhosa, uma daquelas experiências que te surpreendem sem ter sido planejadas. Sajama virou um dos meus cantinhos favoritos do Altiplano.